Há uma passagem de um livro de R. Barthes em que ele discute o “fascismo da língua”. Segundo ele, o fascismo não consiste em impedir alguém de falar, mas em obrigá-lo a dizer algo. Ao falar, o simples ato de usar a língua já me insere em uma relação de poder. Assim, para Barthes, falar não seria apenas um ato de comunicação, mas também de submissão. Ao me expressar, já estou me sujeitando às estruturas normativas da minha língua. Soma-se, de um lado, a autoridade de quem faz uma afirmação e, de outro, o gregarismo de quem a repete.
A característica gregária da língua estaria presente nos próprios signos que a compõem. Um signo precisa ser reconhecido. O interlocutor que me ouve precisa validar o que estou dizendo — não apenas o conteúdo, mas também a forma. Sem esse reconhecimento, o circuito cotidiano da compreensão não se completa.
O mais interessante é que essa sujeição se aplica mesmo quando “falamos conosco”, no monólogo interminável de nossos fluxos de pensamento, no diálogo interno que constitui a consciência. Mesmo ali, na intimidade, nos sujeitamos. Há, internamente, uma “autoridade” que profere um determinado discurso (o “eu”?) e outra que o reconhece, conferindo-lhe alguma verossimilhança. Esse processo pode ganhar contornos obsessivos, paranoicos ou neuróticos, nos quais a repetição desempenha um papel crucial.
Portanto, para tentar escapar da sujeição, existem duas possibilidades: experimentar ou silenciar-se. De fato, o silêncio é uma forma de evitar as camisas de força embutidas na linguagem, com suas estruturas de poder e necessidade de reconhecimento pelo outro. Seria o silêncio, tanto interno quanto externo, uma forma de resistência? Já a experimentação consiste em explorar as franjas, as bordas e as fronteiras dos discursos institucionalizados.