Warehouse 13

Para quem gosta de ficção científica, aqui vai uma dica. Trata-se da série da SyFy norte-americana chamada Warehouse 13, ou Depósito 13. A história, que em 2012 vai para sua 4 temporada, gira em torno dos agentes Pete Lattimer e Myka Bering, os quais têm a missão de buscar e recuperar objetos com poderes paranormais. Uma vez encontrados, tais objetivos devem ser catalogados e arquivados no Depósito 13.

Venho assistindo à série desde o primeiro episódio e, como toda história com muitos episódios, há altos e baixos. Alguns dos últimos da 3 temporada pareciam implausíveis demais, mesmo para um estilo ficção. Mesmo assim, é divertida e nos ajuda a passar um bom tempo descontraídos. Um dos pontos fortes é a rapidez e agilidade com que os episódios são filmados (às vezes para compensar, penso eu, a pobreza do texto – mas não vamos ser críticos aqui, certo?).

Se pensarmos bem, os objetos de nossa vida cotidiana têm algum poder sobre nós – evidentemente, não paranormal ou sobrenatural (como em Warehouse 13), mas um poder semiótico: eles concentram memória: de um lugar, uma pessoa, uma perda, um ganho, uma escolha, um erro, um acerto. Objetos nos rodeiam e são uma extensão de nós – ou nós deles! Ofuscados pela sua cotidianidade, passam, na maior parte do tempo, desapercebidos por nós, mas estão sempre aí.

Objetos podem assumir o que Winnicott denominava de uma propriedade transicional, fazendo a ponte entre a ilusão e a realidade. Tudo tem a ver com as primeiras experiências de vínculo da criança: uma vez notando que a mãe não é parte dela, cria uma ilusão de sua presença – por exemplo, agarrando-se a um cobertor ou ursinho de pelúcia. Desenvolvemos, vida afora, nossos apegos a objetos transicionais. Eles constituem áreas intermediárias entre nosso mundo interno e o mundo externo, objetivo.

Warehouse 13 explora justamente essa relação subjetiva-objetiva entre nós e nossos objetos. Mostra o quão grande é a dependência do humano dos objetos que eles próprios criam. Para quem quer descontrair um pouco, e não se envergonha de algumas “catarses” vez ou outra, é um bom passatempo.

 

Lars Von Trier

O diretor Lars Von Trier, que causou polêmica esta semana em Cannes por insinuar “simpatia” por Hitler, está lançando seu novo filme, Melancolia. Aqui vai o trailer, ficando eu na expectativa do lançamento (previsto para agosto no Brasil).

 

América profunda

Assisti ao filme “Inverno da alma”, com a belíssima atuação de Jennifer Lawrence, que faz o papel de uma adolescente de 17 anos que, devido ao abandono do pai (preso por envolvimento com drogas), tem de cuidar de dois irmãos menores e da mãe demente. Para piorar, Ree (a personagem de Lawrence) recebe a notícia de que ela e sua família teriam de deixar a casa em que viviam, pois o pai a havia alienado em garantia de dívida. A partir disto, ela se coloca imediatamente a buscar os rastros do pai, até que descobre uma “verdade submersa” sobre ele, digamos assim.

Trata-se de uma América profunda. Não daquela “high tech”, vendida frequentemente nos filmes vindos dos EEUU. A trama é ambientada em uma região pobre e, muito certamente, esquecida do país. Não há referência temporal nem social, de modo que a única coisa a que temos acesso são pessoas lutando pela sobrevivência (por exemplo, Ree e seus irmãos caçando esquilos para poder comer), incluindo o tráfico de drogas.

Chamou-me a atenção o respeito de Ree e de seus irmãos pelos animais. O filme é repleto deles: cavalos, cachorros, gatos… Em dado momento, Ree ao que parece sonha com a destruição da pouca dezena de árvores já antigas que tinham aos redores de sua casa. No mesmo sonho, esquilos são mostrados fugindo, desorientados com a destruição e queima das árvores. Talvez um “paralelo” com o abandono dela própria.

Outra coisa que chama a atenção é a presença igualmente forte de mulheres. Em diversos momentos, pareciam ser elas as verdadeiras “agências” da ação, ou seja, quem faziam as coisas acontecerem (veja-se que o pai de Ree foge de casa, não consegue “sustentar” o lugar de “pai” e marido). As mulheres ficam.

Não há lugar para riso no filme, apesar de haver uma certa “sensibilidade” implícita, mesmo nos personagens mais violentos. Por fim, fica uma reflexão no ar sobre o que é ser adulto. Só como provocação, adolescentes hoje em dia, aos seus 17 anos, não fazem muito mais do que frequentar shoppings e se achocoalharem nas melodramáticas descobertas amorosas. Lógico que, para tornar-se adulto, não é preciso passar por situações-limites, ou por “queimas de etapa” no ciclo normal (=classe média) do desenvolvimento.

Provavelmente, não precisamos ir muito longe. Aqui mesmo, no grande Brasil, muitas adolescentes devem ser iguais à Ree, construindo alguma base ética em meio a existências materiais bem cinzas.

Tetro e o despotismo do pai (e da crítica)

O novo filme de Coppola, Tetro, tem recebido uma avaliação negativa da crítica no Brasil. O diretor de O poderoso chefão teria “deixado a desejar” com este seu novo filme. A crítica sintomatiza, portanto, certo desapontamento, certa frustração.

Assisti ao filme e, honestamente, achei-o muito bom. O argumento gira em torno da questão do pai – neste caso, de um “poderoso pai” que, vaidoso e narcisista, não deixava espaço para a família. Tanto é que seu filho, Tetro, não conseguindo afirmar-se perante ele, abandona o lar e tenta reconstruir sua vida em outro lugar. O irmão de Tetro, Bennie, é quem alimenta o enredo. Partindo dos EUA, vai à Argentina reencontrar o irmão iconoclasta. A partir daí segue-se uma estória de reconstrução dos vínculos entre os dois personagens.

Voltando à crítica do filme. É claro que críticos profissionais têm critérios distintos dos meros apreciadores (“amadores”) de uma obra (por exemplo, vi um que apontava falhas no uso do preto-e-branco e do colorido no filme). Contudo, dizer que Coppola, ensaiando um projeto marcadamente autoral e genuíno, “deixou a desejar”, me parece um disparate.

Bom, é contigo dizer. Fiquei tocado pelo longa – vai ver que sou bem “naive”. Como disse Tetro à mais importante crítica de cinema da América do Sul: “sua opinião não me importa mais”. E, para os psicólogos de plantão, às vezes, quando se diz isso, não se quer dizer “onipotência”!

O Cisne negro – imperdível

Acabo de assistir ao filme O cisne negro (2011), estrelado por Natalie Portman. Trata-se da história de Nina (Portman), uma bailarina cuja vida é totalmente consumida pela dedicação à arte do balé – e mais do que isso: pela obsessão pela perfeição.

Nina faz parte de uma companhia de balé de NY em que o papel da bailaria principal (Winona Ryder) acabara de ficar vago – precisamente o do cisne, na peça “O lago dos cisnes”. Nina é a escolhida por seu ponto forte: a capacidade de interpretar o cisne branco (gracioso, inocente…). Mas seu ponto fraco é a dificuldade de interpretar o cisne negro (astucioso, sedutor). Uma colega de Nina, Lily (Mila Kunis), personifica o cisne negro, o que é suficiente para disparar uma rivalidade destrutiva entre ambas.

O filme narra a transformação de Nina a partir de sua “incorporação” do personagem do cisne negro (ou das características que seriam capazes de suportá-lo). Trata-se de um pesado enredo psicológico que mistura fantasia e realidade. Ao final, fica-se com a impressão de que uma vida inteira vale por um ato de perfeição – a incorporação plena do papel do cisne negro às custas da própria vida do personagem.


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