Paciência

Como se exercita, como se desenvolve a paciência? Ter paciência significa, em alguns casos, ter de esperar pelo tempo de reação de outra pessoa. Pensamos, quando alguém não aje no tempo que gostaríamos, que ela está de má-fé, que não entende as implicações de seu atraso ou delonga. Pensamos também que ela não entende a importância daquilo para o que estamos exigindo pressa.

O impaciente deseja alterar o ritmo com que o mundo gira. Ele deseja que tal ritmo seja ditado por seus estados de humor internos, em geral altamente ansiógenos. O ansioso não consegue entender que o mundo tem seu próprio ritmo. Ele deseja interferir nesse ritmo, fazendo com que se torne (ou se iguale) ao seu próprio ritmo. Descompasso muito difícil de se solucionar.

O ansioso acha que o mundo é lento. Ele não dorme à noite porque ele não consegue conviver com esse fato. Mas o maior perigo de um ansioso é que ele cobra de seu próprio corpo o que ele não consegue no mundo: seu corpo deve se acelerar; seu corpo não deve repousar nem interromper o turbilhão do pensamento que, como num passe de mágica para uma platéia vazia, acredita que está se reproduzindo no mundo real. Esse é o problema do ansioso: ele faz de sua mente, de seu espírito, um lugar inquieto, e de seu corpo um escravo.

Ao mesmo tempo, me pergunto: não seria a ansiedade um “mal” do século? Não gostamos quando nos atendem rápido? Quando nos enviam a mercadoria rápido? Quando chegamos com o carro no McDonald’s e eles entregam logo nosso pedido, sem termos de ficar “budisticamente” esperando uma fila enorme de carros, como se fossem serpentes lentas e ociosas que não se mexem? Então, isso é ambíguo.

No meu conhecimento popular, sei que a “filosofia” budista prega o desprendimento do ser em relação ao mundo. Ou, pelo menos, ensina seus crentes a não esperarem muito do mundo. Passividade extrema revestida de moral e sabedoria oriental. Obviamente, o capitalismo não é nada budista, e vivemos numa época acelerada (pelo menos em 1% da civilização).

Também acho, para concluir, que a aceleração do tempo, o desejo de controle do ansioso, tem um outro lado: se queremos as coisas rápidas, temos de nos colocar. Sim, temos, como eu disse, de lidar com o tempo do “outro”, mas temos de nos colocar. Temos de agir. Quem espera é quem é indiferente ao tempo das coisas. Portanto, na ansiedade, além das firulas freudianas que psicanalistas poderiam trazer aqui, temos um problema de agência, isto é, ação!


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