Redução de escopo

Olá, pessoal
Aos que me acompanham aqui no blog, esporádicos e contínuos, informo que estou reduzindo o escopo de minha “inserção” na Internet. Estou excluindo minhas contas no Facebook e no Twitter. Ficarei só por aqui no blog e na minha página pessoal (https://www.pedrobendassolli.com). Portanto, nada muda: continuamos a nos encontrar neste endereço. Já está bom para mim!

Os pobres das Américas

Hoje li duas pequenas notas que me chamaram a atenção. A primeira, do Brasil, é sobre uma estatística absurda relacionada à demissão de pessoas no país. Ao redor de 42 milhões de brasileiros foram demitidos sem justa causa nos últimos quatro anos e meio (sobre 73 milhões de demissões). O ministro do trabalho diz que isso tem a ver com a falta de qualificação do trabalhador: os patrões demitem porque precisam de gente mais preparada para realizar as atividades.

Não entendo de economia, mas quando esse número de pessoas são demitidas, e quando, ao mesmo tempo, as taxas de desemprego são relativamente baixas, isso significa que há uma elevada rotatividade: a pessoa não fica muito tempo no mesmo emprego. Também não é dito em que nível isso ocorre, mas tenho a impressão que é na chamada base da pirâmide, com os trabalhadores de menor instrução. Obviamente, há também o desemprego de colarinho branco, mas alta mobilidade em massa só pode ocorrer entre a força de trabalho mais vulnerável.

Como psicólogo organizacional, me pergunto se há alguma novidade nisso – pelo menos se considerarmos a velha máxima do “exército de reserva”, de Marx. Além disso, maior mobilidade também pode indicar aquecimento econômico e maior facilidade para o trabalhador encontrar empregos mais interessantes para sua vida (que pague um pouco mais, por exemplo). Em suma, podemos relativizar esse número impressionante de demissões. Porém, talvez seja igualmente interessante se perguntar o que está se passando nas relações de trabalho, mais particularmente nos processos de gestão, para alimentar essa cifra. Teria o trabalho perdido seu significado subjetivo, e estariam empregadores (e, quem sabe?) e empregados se desfazendo de seus vínculos como se troca de roupa?

Outra notícia que li vem dos EUA. Uma imensa massa anônima, auto-intitulada de os 99% da América, está postando na Internet declarações que vão desde um espírito anti-Wall Street até algo que lembra muito a filosofia dos Alcoólatras Anônimos misturado com certa auto-exposição vitimizante. Veja aqui uma tradução do texto em que tais 99% se definem. Aqui no Brasil, lembro-me de ter visto algo similar (embora em muitíssimo menor escala): a pessoa desempregada tentando chamar de alguma forma a atenção. Nos EUA, dentro de seu individualismo cultural de massa, o átomo (indivíduo) se junta a uma infinidade de outros para gerar alguma reação no plano público. Lá, talvez a tentativa chame realmente a atenção (Sociedade do Espetáculo?); aqui, acho difícil, pois todos os dias assistimos pedintes pelas ruas, entregues à sua própria sorte, e duvido que nos sensibilizemos em massa. Sozinhos, vamos vivendo os dramas diários de “empregadinhos” facilmente descartáveis. Isso é tão dramático que nem sei como concluir este texto (a não ser assim: de forma abrupta).

Vontade de partir

O que nos faz enraizar num lugar? Talvez, considerando a história da humanidade, sejamos muito mais nômades do que criaturas sedentárias. O problema é que, nos assuntos humanos, o tempo, a insistência e a repetição têm um valor importante. Não dá para começar algo e logo interrompê-lo. A menos que abracemos a idéia de uma vida errática, sem trajetória fixa.

Acho que o homem (gênero), mais do que a mulher, tem sempre dentro de si o desejo de abandonar tudo, de deixar tudo para trás. Uma verdadeira utopia: em Passargada, seremos amigos do Rei… Em algum outro lugar nossa vida pode desabrochar mais do que neste em que estamos.

E por quê? Talvez porque não consigamos honrar desejos que achamos que tomamos em outro momento, no passado. Os desejos de hoje, realizados, parecem não deixar em você nenhuma sensação de identidade: eu quis isso? Eu fiz o que fiz porque queria estar onde estou? É às vezes difícil se conectar consigo mesmo no passado, exceto por um compromisso moral (assumi, cumpro).

Mas a mobilidade traz custos às vezes elevados. Além disso, ela depende de competência e de um “mercado” – não podemos nos dar ao luxo de ir embora para onde quisermos: é preciso haver emprego. E, junto deste, a reprodução da vida (comer, beber, morar, divertir-se). No passado brasileiro, um exemplo foi o fluxo migratório aqui do Nordeste para o Sudeste (hoje sendo invertido). As pessoas iam atrás de emprego. A mobilidade era colada à sobrevivência.

Há, apesar de tudo, um encanto sedutor, hipnótico, no desejo de mudança, de deixar o lugar em que se está. Ainda mais quando temos “vários mundos” em nosso espírito!

Para entender essa vontade de des-investir, de deixar tudo em nome de uma “nova vida”, um bom livro literário é Doutor Pasavento.

Focas e bestas

Uma vez eu li um livro no qual o autor, que discutia sobre “ética animal”, propunha a existência de três tipos de posturas éticas em relação animais: (1) há aquela pessoa que NUNCA sentiu nada pelos animais, tratando-os como objetos indiferentes; (2) há pessoas que têm dentro si uma sensibilidade adormecida: basta um pouco de reflexão ou de estímulo para fazerem despertar seu respeito e sentimentos pelos animais; (3) há aquelas que SEMPRE, desde quando saíram do berço, sentem algo pelos animais.

Hoje vi este filme abaixo. Imediatamente, fiquei imaginando os covardes matando esses bichos. E, sabemos, o fazem da forma mais cruel possível. Acho que a razão traz consigo responsabilidades: SABEMOS, ou deveríamos, que torturar os animais e matá-los é uma atrocidade. Sabemos disso, não há dúvida. Mas, claro, o conservador que me lê pode pensar: ué, mas deveríamos também saber que maltratar uma criança, matar outro ser humano, roubar ou coisa que o valha, são atividades inaceitáveis, pois desestruturam o equilíbrio social e fazem os outros sofrerem. Mas, há uma diferença: trata-se de seres humanos racionais, cientes do que estão fazendo (exceto o psicopata mais doente). Nossa relação com os animais é diferente: eles não têm razão, eles não compartilham conosco o mesmo campo ético; mas, ao mesmo tempo, e por conta justamente disso, merecem nosso respeito – pois temos possibilidade de escolha.

Aos covardes do mundo que fazem mal aos animais, aos conservadores mais desalmados, lamento fazer parte da mesma espécie que vocês! Eu me envergonho de dividir o mesmo “dom” da racionalidade que vocês.

A psicologia da lerdeza

No post anterior falei do “mal” do ansioso, embora meu texto tenha ficado ligeiramente ambiguo. Agora, aproveitando o ensejo, gostaria de dizer umas palavras sobre a lerdeza. Há, logo de cara, um certo torcer de nariz quando se fala que alguém é lerdo, pois isso é moralmente muito carregado: nenhuma pessoa chamada de “lerda” vai ficar feliz com isso!

Mas, deixando a frivolidade dos espíritos fracos, daqueles que não vão além das obviedades, o que  poderíamos perguntar à lerdice? Ela nos poderia dizer algo? Ela pode nos dizer o seguinte: o lerdo é alguém defasado com o ritmo das outras pessoas. Ele vive o tempo dele. Se o ansioso vive o tempo dele para mais, o lerdo vive o tempo dele para menos: tudo e todos podem esperar! Numa visão mais negativa, é algo como: “que se danem os outros, eu tenho meu tempo; quem quiser, que me engula!”.

Mas o “lerdo” pode ser também uma pessoa que sabe degustar o tempo das coisas, ou seja, que não vê seu “eu” ameaçado quando as coisas não saem no tempo desejado. Ele está, como se diz popularmente, “de boa”. Claro que, nos contextos de trabalho “competitivos”, não há espaço para o “lerdo”, pois ele frequentemente perde o bonde da história. Mas, em outros contextos (lembremos que “os contextos competitivos” são 1% da humanidade), a lerdisse tem seu espaço e sua vez.

Junto com a lerdisse emerge a própria característica do sujeito. Se o rápido, na visão de senso comum, é taxado de ansioso, frívolo, instável, superficial, o “lerdo” é deixado à sua própria sorte: ele está dizendo, muitas vezes, que ele “está fora”, que ele não depende de sua imersão naquilo que ele acha que é “o ritmo dos outros”. Ele pontua-se: eu sou eu, vocês que fiquem com o ritmo de vocês! Tanto no caso do ansioso como neste do sujeito com uma temporalidade diferente (mais “lenta”), temos o mesmo ponto: é preciso posicionar-se.

Acho que deveríamos pensar mais sobre a lerdice, para além dos preconceitos boçais. Ela diz muito, mas muito mesmo, sobre as relações sociais, sobre normas, sobre padrões, sobre sintonização e, especialmente, sobre timing. Aliás, isso é muito importante: timing, o fato de se obter algum tipo de sincronia fenomênica: entre eu-outro-coisas-situação.

Paciência

Como se exercita, como se desenvolve a paciência? Ter paciência significa, em alguns casos, ter de esperar pelo tempo de reação de outra pessoa. Pensamos, quando alguém não aje no tempo que gostaríamos, que ela está de má-fé, que não entende as implicações de seu atraso ou delonga. Pensamos também que ela não entende a importância daquilo para o que estamos exigindo pressa.

O impaciente deseja alterar o ritmo com que o mundo gira. Ele deseja que tal ritmo seja ditado por seus estados de humor internos, em geral altamente ansiógenos. O ansioso não consegue entender que o mundo tem seu próprio ritmo. Ele deseja interferir nesse ritmo, fazendo com que se torne (ou se iguale) ao seu próprio ritmo. Descompasso muito difícil de se solucionar.

O ansioso acha que o mundo é lento. Ele não dorme à noite porque ele não consegue conviver com esse fato. Mas o maior perigo de um ansioso é que ele cobra de seu próprio corpo o que ele não consegue no mundo: seu corpo deve se acelerar; seu corpo não deve repousar nem interromper o turbilhão do pensamento que, como num passe de mágica para uma platéia vazia, acredita que está se reproduzindo no mundo real. Esse é o problema do ansioso: ele faz de sua mente, de seu espírito, um lugar inquieto, e de seu corpo um escravo.

Ao mesmo tempo, me pergunto: não seria a ansiedade um “mal” do século? Não gostamos quando nos atendem rápido? Quando nos enviam a mercadoria rápido? Quando chegamos com o carro no McDonald’s e eles entregam logo nosso pedido, sem termos de ficar “budisticamente” esperando uma fila enorme de carros, como se fossem serpentes lentas e ociosas que não se mexem? Então, isso é ambíguo.

No meu conhecimento popular, sei que a “filosofia” budista prega o desprendimento do ser em relação ao mundo. Ou, pelo menos, ensina seus crentes a não esperarem muito do mundo. Passividade extrema revestida de moral e sabedoria oriental. Obviamente, o capitalismo não é nada budista, e vivemos numa época acelerada (pelo menos em 1% da civilização).

Também acho, para concluir, que a aceleração do tempo, o desejo de controle do ansioso, tem um outro lado: se queremos as coisas rápidas, temos de nos colocar. Sim, temos, como eu disse, de lidar com o tempo do “outro”, mas temos de nos colocar. Temos de agir. Quem espera é quem é indiferente ao tempo das coisas. Portanto, na ansiedade, além das firulas freudianas que psicanalistas poderiam trazer aqui, temos um problema de agência, isto é, ação!

Prefiro ouvir a falar (4)

Sorry pelo tempo sem outra “tônica”, mas, e quem vai negar que a música é um dos melhores “laxantes” cerebrais que a cultura, como um “terceiro” (semiótico?), nos oferece para mediar entre o SER e o NADA? Claro, temos de agradecer ao Youtube também! Bom, para quem está no RN, bom feriado amanhã!

Prefiro ouvir a falar (3)

Publicação de artigos

Professor Gilson Volpato (UNESP) discute os principais motivos de rejeição de manuscritos em revistas científicas de alto nível. Apesar de transparecer um modelo muito específico de ciência na discussão do prof. Volpato, o qual muitas vezes não se aplica a diversas áreas de Psicologia, ainda assim vale a pena conferir, pois há dicas importantes de redação científica.

Progressão aritmética

Fonte


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