Velhice

Estou lendo o último livro de Philip Roth, Nêmesis. Há um trecho, no qual o personagem principal fala de sua avó, que cuidou dele desde quando sua mãe morreu no parto, que me chamou a atenção. Identifiquei no trecho minha própria avó (com 96 anos!) e, principalmente, minha mãe, que semana passada fez 72 anos. É muito complicado quando você vê sua mãe com essa idade, e mesmo quando você mesmo começa a notar, visceralmente (não pelo cérebro, quero dizer), que você envelhece e que sua vida é uma tênue linha, um espirro ao mesmo tempo maravilhoso e fugaz. Enfim, transcrevo o trecho a seguir.

“Naquela noite, observando a avó enquanto esta lhe servia o jantar, ele se perguntou se sua mãe se parecia com ela caso houvesse tido a sorte de viver mais cinquenta anos – débil, curvada, ossos frágeis, cabelos que tinham perdido a cor décadas antes para se converter numa fina lanugem branca, dobras fibrosas nos braços e papada sob o queixo, juntas que doíam de manhã e tornozelos que inchavam e latejavam ao anoitecer, pele translúcida e tão fina como uma folha de papel nas mãos manchadas de marrom, cataratas que haviam encoberto e descorado seus olhos. O rosto que encimava a ruína do pescoço era agora uma complexa malha de rugas, sulcos tão diminutos que pareciam ser obra de alguma ferramenta bem menos grosseira do que o formão da velhice – talvez um buril para gravar em metal ou o bilro de um fazedor de rendas, manipulado por um mestre artesão a fim de lhe dar a aparência de uma avó tão velha quanto as mais velhas no mundo” (p. 89).

 

 


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